Porventura, o mais belo solo de sax-alto dentro do género, num álbum para celebrar sempre.
The Cannonball Adderley solo on Flamenco Sketches
By Rino Breebaart
Despite all the banging on about modal jazz and the fact that Flamenco Sketches is very clearly modal, it is nonetheless one of the most perfect pieces of jazz ever recorded, because it is purest improvisation. It's free soloing over an integrated and conducive backing where everything sounds 'together'. The furthest state removed from indulgent noodling and ego-exercises on a technical scale; this is emotional and affective music where the means and message merge to become art. It's gentle, contemplative and meditatively sparse yet reassuringly intimate; its emotional contour taking in warm comfort in one mode and the soul’s weathering of the storm in the next, before returning again to comfort in the late of the night. It is one of the great triumphs of the blues ballad form. It is the heart of music laid bare with grace and maturity.And it’s Cannonball Adderley’s solo that I find particularly graceful. Coltrane takes the first solo, navigating comfortably over the three modes and introducing some of the measures Cannonball will expand. The biggest difference between the horn players is that Cannonball has this amazing faculty for lyrical rhythmic grace. His improvised phrasing is strongly suggestive of the human voice. He has a genius for that vocally-rhythmic degree between swing and funky. He bends notes up unexpectedly, he quips and pops little phrases; he sings languid one minute then uses plain bop-notes the next. And then he will sustain the most beautiful note: first clear and then with vibrato near the end of the breath. He is fabulously well-punctuated — one of the finest grammarians of rhythmic phrase and finesse in jazz. Coltrane seems more straight-ahead, the lateral line-man in comparison, his soul a different kind of energy. Cannonball is a sheer optimist, pacing his notes between the beats while staying perpetually fresh (I think he is the better complement to Miles’ spare musings — Miles also has an acute rhythmic sensibility not immediately apparent, a rhythm that unlocks melodically). He plants a bold note to clear the air of the last, he sews together heart, tact and intuitive melancholy in a broad sketch of runs and commas, and at 5:12 he performs an amazing, roof-opening octave run that is pure elegiac soul. It is no longer improvisation but pure emotion.Why is it so humane-affective? Flamenco Sketches implies that at the pinnacle of pure music and art, you’re likely to find a deeply profound but optimistic sadness, a melancholy emotion of loss tenderly rendered but utterly expressive of soul. A truer kind of beauty. All this by virtue of improvisation.
Miles Davis, Julian "Cannonball" Adderley, John Coltrane, Wynton Kelly, Bill Evans, Paul Chambers, Jimmy Cobb .
Álbum: Kind of Blue (1959, Columbia).
Tuesday, January 22, 2008
Wednesday, December 5, 2007
Há coisas evidentemente bi-dimensionais.
Hoje passei um par de horas, ao serão, a vasculhar as gavetas do monolítico artigo de carpintaria que preenche a parede do meu antigo quarto, agora tornado sala de arrumos, ou sala-do-piano, ou sala-de-leitura - ninguém faz lá nada mais condicente com outra além da primeira designação. Procurava uma fotografia em particular, nem recente nem antiga. Em vão.
A tarefa obrigou-me, claro está, a passar os olhos por outras tantas. Tantas!
Adoro estas incursões cíclicas pelo arquivo meio morto, meio vivo onde jaz a memória de papel da família.
No fundo, adoro as fotografias. São terapêuticas, pois operam no nosso expectro das emoções possíveis - onde se encontram também as extremas - como uma vergastada leve nas costas de um seminarista: se estamos demasiado tristes, mostram-nos que já fomos felizes, se estamos demasiado felizes, lembram-nos que somos mortais.
A tarefa obrigou-me, claro está, a passar os olhos por outras tantas. Tantas!
Adoro estas incursões cíclicas pelo arquivo meio morto, meio vivo onde jaz a memória de papel da família.
No fundo, adoro as fotografias. São terapêuticas, pois operam no nosso expectro das emoções possíveis - onde se encontram também as extremas - como uma vergastada leve nas costas de um seminarista: se estamos demasiado tristes, mostram-nos que já fomos felizes, se estamos demasiado felizes, lembram-nos que somos mortais.
Friday, July 27, 2007
Dormir bem é uma coisa boa.
Eu, que sou de natureza dócil e desde cedo dotado de extraordinária compaixão – mesmo quando não mais do que isso – e abstinência adjectivante relativamente a todo o humanóide mais carenciado de beleza ou saúde mental – e que mui raras vezes dei comigo a escarnecer sem posterior remorso do cauteleiro do bairro a quem a força da gravidade e a descalcificação precoce arquearam sobremaneira as frágeis pernas, logo tratando a mais fiel clientela de lhe colocar metaforicamente “os tomates entre parêntesis”, confesso que a visão desta espécie de homúnculo me envaidece.
Se a sua morfologia me leva as mais das vezes a quedar-me por um espontâneo e inconsequente “fooooda-se!”, desta feita resolvi, dissipado o eco da interjeição, racionalizar um pouco mais e dedicar-lhe um post. Não sem antes partilhar com quem chegou a esta linha que cada visão do “coiso” corrobora a minha há muito irreversível tese de que o capachinho foi muito infeliz na escolha do homem e não o inverso, mais condicente com a opinião generalizada dos portugueses e portuguesas.
O José Cid é, na Pop portuguesa, universo já de si, e há muito, infestado e empestado de e pelo esterco, um caso atípico de militância na estupidez, seja pelas suas canções, seja pela mais despudorada auto-vangloriação que, quando não manifesta, é muitas vezes mal disfarçada. As enjoativas tentativas do cantor de induzir nos que (ainda) o ouvem falar algumas migalhas da caridosa ternura ou do ininteligível apreço que votamos à bosta seca que, com o passar dos anos, ali ficou mas já não cheira – tipo Xutos, GNR ou, timidamente no verão passado, os Heróis do Mar - evidenciam falta de orçamento para comprar marketing e produção profissionalizados à laia de Tony Carreira. Logo, “faça você mesmo!”.
Assim faz o jockey nesta pérola que aqui anexo, para regabofe domiciliário dos que sabem que rir ao serão é importante para uma boa noite de sono.
Se a sua morfologia me leva as mais das vezes a quedar-me por um espontâneo e inconsequente “fooooda-se!”, desta feita resolvi, dissipado o eco da interjeição, racionalizar um pouco mais e dedicar-lhe um post. Não sem antes partilhar com quem chegou a esta linha que cada visão do “coiso” corrobora a minha há muito irreversível tese de que o capachinho foi muito infeliz na escolha do homem e não o inverso, mais condicente com a opinião generalizada dos portugueses e portuguesas.
O José Cid é, na Pop portuguesa, universo já de si, e há muito, infestado e empestado de e pelo esterco, um caso atípico de militância na estupidez, seja pelas suas canções, seja pela mais despudorada auto-vangloriação que, quando não manifesta, é muitas vezes mal disfarçada. As enjoativas tentativas do cantor de induzir nos que (ainda) o ouvem falar algumas migalhas da caridosa ternura ou do ininteligível apreço que votamos à bosta seca que, com o passar dos anos, ali ficou mas já não cheira – tipo Xutos, GNR ou, timidamente no verão passado, os Heróis do Mar - evidenciam falta de orçamento para comprar marketing e produção profissionalizados à laia de Tony Carreira. Logo, “faça você mesmo!”.
Assim faz o jockey nesta pérola que aqui anexo, para regabofe domiciliário dos que sabem que rir ao serão é importante para uma boa noite de sono.
Thursday, July 19, 2007
(de)formação vocacional
Sou, não sem que para isso me tenham que colocar entre a espada e a parede, levado a constatar, violentamente, que a minha verdadeira vocação é para amar, não para ser amado.
Monday, July 2, 2007
Viva as cooooisas com quatro "ós"!
Uma vez mais, a RTP ficou a rir-se da TVI, arrematando a transmissão do concerto de homenagem à Santinha de Évora.
(Pessoalmente, não nutro especial admiração pela diva de 1,80m e cara-de-loiça. Sempre a achei demasiado quadrada de tronco e tenho ouvido dizer que era minimamente estúpida.)
Mas, ao que parece, foram horas de puro enriquecimento cultural tutoradas pela Maria Elisa, ainda não completamente recomposta da ressaca de grandiosidade que abalou, e de que maneira, o burgo, e pelo Júlio Isidro, que descobriu e lançou a Lady não era ela ainda outra coisa que a mai’ nova dos Spencer (olheiro indispensável, este narigudo)
É verdade que o sol perdeu, finalmente, a vergonha nos últimos dias, e a tarde era de praia para quem pôde. Para quem não pôde adivinhava-se o marasmo do rebolar no sofá. Além disso, a agenda política chegou às páginas coloridas da silly season e a presidência portuguesa da não-sei-quantas, a partir de não-sei-quando, é um fait divers (dizia-se hoje de manhã no bar da RTP que o Eládio, que tinha o pelouro das coisas europeias, ainda foi sondado, mas declinou a proposta e a ideia, que no tempo dele ainda não havia esta anarquia das votações por sms), mas a RTP, espertíssima, saca cada coelho da cartola! E assim vai preenchendo o vazio que são os nossos domingos. Obrigado!
Longa vida, gritemos, à nossa televisão cinquentenária, que mantém a boa forma e recusa envelhecer. Uma produtora estrangeira atira bolinhas e ela corre atrás delas, cachoooorra.
Wednesday, June 13, 2007
A nossa RTP é a mai’ liiiinda!!!
Quando julgava que a RTP não conseguia fazer pior realização televisiva de um espectáculo do que aquela com que, por desleixo ou desrespeito, ou ambos, nos presenteou na última Corrida de Toiros da Casa de Pessoal da RTP, em Elvas, pudemos ontem apreciar uma exibição vergonhosa de mediocridade e desnorte a raiar o vídeo-amadorismo.
Os operadores de câmera tropeçavam uns nos outros, completamente perdidos entre cabos, marchantes e balões mas, ainda assim, mais felizes que o colega escalado para a câmera fixa, na bancada, impotente perante a evidência de que as dezenas de pessoas que o rodeavam se mexiam, carregavam crianças, iam fazer chi-chi e voltavam, etc.
Tontos e simpáticos como de costume, o Gordo e a Magra, num palanque povoado por figurantes aos saltinhos com qualquer coisa na mão – bandeiras? – mimetizando o pessoal das nossas alegres juventudes partidárias em altura de campanha eleitoral, entremeavam as previsíveis séries de disparates e vulgaridades com longos períodos de um silêncio revelador do pouco que sabiam acerca do que se passava ou estava para passar na avenida.
O Júlio Isidro, renascido das cinzas de há uns tempos a esta parte e finalmente grizalho, continua sem piada nenhuma, muito menos para tão castiças andanças.
A ideia que o telespectador mais atento retém é a de que reinou o improviso, faltava um bom guião, haveria, porventura, gente a mais a mandar e houve poucos ensaios.
Afortunados os que tiveram a brilhante ideia de desligar o som do televisor e ligar o rádio. Sim, na Antena 1, com o Armando Carvalheda e o Edgar Canelas.
Os operadores de câmera tropeçavam uns nos outros, completamente perdidos entre cabos, marchantes e balões mas, ainda assim, mais felizes que o colega escalado para a câmera fixa, na bancada, impotente perante a evidência de que as dezenas de pessoas que o rodeavam se mexiam, carregavam crianças, iam fazer chi-chi e voltavam, etc.
Tontos e simpáticos como de costume, o Gordo e a Magra, num palanque povoado por figurantes aos saltinhos com qualquer coisa na mão – bandeiras? – mimetizando o pessoal das nossas alegres juventudes partidárias em altura de campanha eleitoral, entremeavam as previsíveis séries de disparates e vulgaridades com longos períodos de um silêncio revelador do pouco que sabiam acerca do que se passava ou estava para passar na avenida.
O Júlio Isidro, renascido das cinzas de há uns tempos a esta parte e finalmente grizalho, continua sem piada nenhuma, muito menos para tão castiças andanças.
A ideia que o telespectador mais atento retém é a de que reinou o improviso, faltava um bom guião, haveria, porventura, gente a mais a mandar e houve poucos ensaios.
Afortunados os que tiveram a brilhante ideia de desligar o som do televisor e ligar o rádio. Sim, na Antena 1, com o Armando Carvalheda e o Edgar Canelas.
Wednesday, May 9, 2007
Há coisas que nunca hão-de ser melhores do que já são.
Parece que o João Bonifácio meteu água... e a blogoesfera desatou num corrimento verbal sobre a fífia.
Uma vez mais, o dedo aponta para o céu e os tolos olham para o dedo. Será talvez exagerada esta condenação, também ela, sumaríssima, mas já que falamos de exageros...
Sucede que não espero grande coisa do trabalho do Camané. Vem-me logo ao nariz - pavlovianices! - o cheiro a comida aquecida e a falta de imaginação, que hoje as ípsilons e outra bibliografia tantas vezes adjectivam de "inovação", "tributo" ou "revisitação" - indústria-de-qualquer-coisa-a-que-chamamos-música oblige...
No final de contas, o Bonifácio fez por esquecer uma pergunta bem mais desafiadora à qual, pessoalmente, julgo que o fadista responderia com maior sinceridade:
Ó Camané, mas por que caralho é que hás-de pensar que o mundo te quer ouvir cantar Brel?
Uma vez mais, o dedo aponta para o céu e os tolos olham para o dedo. Será talvez exagerada esta condenação, também ela, sumaríssima, mas já que falamos de exageros...
Sucede que não espero grande coisa do trabalho do Camané. Vem-me logo ao nariz - pavlovianices! - o cheiro a comida aquecida e a falta de imaginação, que hoje as ípsilons e outra bibliografia tantas vezes adjectivam de "inovação", "tributo" ou "revisitação" - indústria-de-qualquer-coisa-a-que-chamamos-música oblige...
No final de contas, o Bonifácio fez por esquecer uma pergunta bem mais desafiadora à qual, pessoalmente, julgo que o fadista responderia com maior sinceridade:
Ó Camané, mas por que caralho é que hás-de pensar que o mundo te quer ouvir cantar Brel?
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