Wednesday, December 5, 2007

Há coisas evidentemente bi-dimensionais.

Hoje passei um par de horas, ao serão, a vasculhar as gavetas do monolítico artigo de carpintaria que preenche a parede do meu antigo quarto, agora tornado sala de arrumos, ou sala-do-piano, ou sala-de-leitura - ninguém faz lá nada mais condicente com outra além da primeira designação. Procurava uma fotografia em particular, nem recente nem antiga. Em vão.
A tarefa obrigou-me, claro está, a passar os olhos por outras tantas. Tantas!
Adoro estas incursões cíclicas pelo arquivo meio morto, meio vivo onde jaz a memória de papel da família.
No fundo, adoro as fotografias. São terapêuticas, pois operam no nosso expectro das emoções possíveis - onde se encontram também as extremas - como uma vergastada leve nas costas de um seminarista: se estamos demasiado tristes, mostram-nos que já fomos felizes, se estamos demasiado felizes, lembram-nos que somos mortais.

Friday, July 27, 2007

Dormir bem é uma coisa boa.


Eu, que sou de natureza dócil e desde cedo dotado de extraordinária compaixão – mesmo quando não mais do que isso – e abstinência adjectivante relativamente a todo o humanóide mais carenciado de beleza ou saúde mental – e que mui raras vezes dei comigo a escarnecer sem posterior remorso do cauteleiro do bairro a quem a força da gravidade e a descalcificação precoce arquearam sobremaneira as frágeis pernas, logo tratando a mais fiel clientela de lhe colocar metaforicamente “os tomates entre parêntesis”, confesso que a visão desta espécie de homúnculo me envaidece.
Se a sua morfologia me leva as mais das vezes a quedar-me por um espontâneo e inconsequente “fooooda-se!”, desta feita resolvi, dissipado o eco da interjeição, racionalizar um pouco mais e dedicar-lhe um post. Não sem antes partilhar com quem chegou a esta linha que cada visão do “coiso” corrobora a minha há muito irreversível tese de que o capachinho foi muito infeliz na escolha do homem e não o inverso, mais condicente com a opinião generalizada dos portugueses e portuguesas.
O José Cid é, na Pop portuguesa, universo já de si, e há muito, infestado e empestado de e pelo esterco, um caso atípico de militância na estupidez, seja pelas suas canções, seja pela mais despudorada auto-vangloriação que, quando não manifesta, é muitas vezes mal disfarçada. As enjoativas tentativas do cantor de induzir nos que (ainda) o ouvem falar algumas migalhas da caridosa ternura ou do ininteligível apreço que votamos à bosta seca que, com o passar dos anos, ali ficou mas já não cheira – tipo Xutos, GNR ou, timidamente no verão passado, os Heróis do Mar - evidenciam falta de orçamento para comprar marketing e produção profissionalizados à laia de Tony Carreira. Logo, “faça você mesmo!”.
Assim faz o jockey nesta pérola que aqui anexo, para regabofe domiciliário dos que sabem que rir ao serão é importante para uma boa noite de sono.

Thursday, July 19, 2007

(de)formação vocacional

Sou, não sem que para isso me tenham que colocar entre a espada e a parede, levado a constatar, violentamente, que a minha verdadeira vocação é para amar, não para ser amado.

Monday, July 2, 2007

Viva as cooooisas com quatro "ós"!


Uma vez mais, a RTP ficou a rir-se da TVI, arrematando a transmissão do concerto de homenagem à Santinha de Évora.
(Pessoalmente, não nutro especial admiração pela diva de 1,80m e cara-de-loiça. Sempre a achei demasiado quadrada de tronco e tenho ouvido dizer que era minimamente estúpida.)
Mas, ao que parece, foram horas de puro enriquecimento cultural tutoradas pela Maria Elisa, ainda não completamente recomposta da ressaca de grandiosidade que abalou, e de que maneira, o burgo, e pelo Júlio Isidro, que descobriu e lançou a Lady não era ela ainda outra coisa que a mai’ nova dos Spencer (olheiro indispensável, este narigudo)
É verdade que o sol perdeu, finalmente, a vergonha nos últimos dias, e a tarde era de praia para quem pôde. Para quem não pôde adivinhava-se o marasmo do rebolar no sofá. Além disso, a agenda política chegou às páginas coloridas da silly season e a presidência portuguesa da não-sei-quantas, a partir de não-sei-quando, é um fait divers (dizia-se hoje de manhã no bar da RTP que o Eládio, que tinha o pelouro das coisas europeias, ainda foi sondado, mas declinou a proposta e a ideia, que no tempo dele ainda não havia esta anarquia das votações por sms), mas a RTP, espertíssima, saca cada coelho da cartola! E assim vai preenchendo o vazio que são os nossos domingos. Obrigado!
Longa vida, gritemos, à nossa televisão cinquentenária, que mantém a boa forma e recusa envelhecer. Uma produtora estrangeira atira bolinhas e ela corre atrás delas, cachoooorra.

Wednesday, June 13, 2007

A nossa RTP é a mai’ liiiinda!!!

Quando julgava que a RTP não conseguia fazer pior realização televisiva de um espectáculo do que aquela com que, por desleixo ou desrespeito, ou ambos, nos presenteou na última Corrida de Toiros da Casa de Pessoal da RTP, em Elvas, pudemos ontem apreciar uma exibição vergonhosa de mediocridade e desnorte a raiar o vídeo-amadorismo.
Os operadores de câmera tropeçavam uns nos outros, completamente perdidos entre cabos, marchantes e balões mas, ainda assim, mais felizes que o colega escalado para a câmera fixa, na bancada, impotente perante a evidência de que as dezenas de pessoas que o rodeavam se mexiam, carregavam crianças, iam fazer chi-chi e voltavam, etc.
Tontos e simpáticos como de costume, o Gordo e a Magra, num palanque povoado por figurantes aos saltinhos com qualquer coisa na mão – bandeiras? – mimetizando o pessoal das nossas alegres juventudes partidárias em altura de campanha eleitoral, entremeavam as previsíveis séries de disparates e vulgaridades com longos períodos de um silêncio revelador do pouco que sabiam acerca do que se passava ou estava para passar na avenida.
O Júlio Isidro, renascido das cinzas de há uns tempos a esta parte e finalmente grizalho, continua sem piada nenhuma, muito menos para tão castiças andanças.
A ideia que o telespectador mais atento retém é a de que reinou o improviso, faltava um bom guião, haveria, porventura, gente a mais a mandar e houve poucos ensaios.
Afortunados os que tiveram a brilhante ideia de desligar o som do televisor e ligar o rádio. Sim, na Antena 1, com o Armando Carvalheda e o Edgar Canelas.

Wednesday, May 9, 2007

Há coisas que nunca hão-de ser melhores do que já são.

Parece que o João Bonifácio meteu água... e a blogoesfera desatou num corrimento verbal sobre a fífia.
Uma vez mais, o dedo aponta para o céu e os tolos olham para o dedo. Será talvez exagerada esta condenação, também ela, sumaríssima, mas já que falamos de exageros...
Sucede que não espero grande coisa do trabalho do Camané. Vem-me logo ao nariz - pavlovianices! - o cheiro a comida aquecida e a falta de imaginação, que hoje as ípsilons e outra bibliografia tantas vezes adjectivam de "inovação", "tributo" ou "revisitação" - indústria-de-qualquer-coisa-a-que-chamamos-música oblige...
No final de contas, o Bonifácio fez por esquecer uma pergunta bem mais desafiadora à qual, pessoalmente, julgo que o fadista responderia com maior sinceridade:
Ó Camané, mas por que caralho é que hás-de pensar que o mundo te quer ouvir cantar Brel?

Thursday, March 8, 2007


Hoje não há posts, que o mundo cá fora é uma coisa demasiado boa.



(Foto de Pedro Moreira)

Monday, March 5, 2007

A minha vila-cidade é, de repente, uma coisa boa.


Foto de Isabel Gomes da Silva

Tem uma voz anasalada mas não irritante, derivação acústica da renite que me confessou mais tarde ou simplesmente a ressonância naturalmente possível para quem é sumária em peso e altura. Chamou-me no outro dia na rua, coisa vulgar entre amigos, não fora estar eu de costas e caminhando a passos largos – que os não sei dar de outro modo – e ir já a caminho de desaparecer do alcance de ambas. Portanto, presumo que me chamou a si, e portanto, auto-legitimo o meu direito de começar a presumir – leia-se fantasiar, imaginar, desejar – uma série de outras coisas. Mas não o vou fazer para já. Quedar-me-ei por uma análise descritiva, não desapaixonada, daquelas que se lê nos primeiros capítulos das dissertações académicas.
Ao segundo encontro é possível, muito pela sua quietude e minimalismo gestual, ler quase tudo sem deixar de a ouvir por mais do que um segundo.
O cabelo, mais belo se ligeiramente despenteado pela brisa do que no arrumo acabado-de-sair-do-espelho de um corte um tanto anacrónico ou, simplesmente, sóbrio, semi-emoldura um rosto onde maxilares menos femininos, sem serem o mais marcante no mesmo, configuram uma quadratura quase simétrica que se reproduz de frente e de perfil de forma invulgarmente coerente. Tudo isto culminando num nariz que alguém apertou à nascença e assim ficou, pequeno e quase infantil. Como o é, aliás, a pele. Manifestamente incólume ao fumo do tabaco, ao pó ou a ocasionais faltas de sono, a candura epidérmica revela-se ainda mais doce a contra-luz, porquanto permite focar uma descolorada penugem, daquelas que temos de forma mais evidente em crianças mas que quase sempre largamos por volta dos treze. Ela não. E os únicos traços que nos encorajam a arriscar supor outra idade que não a aparente são, por debaixo e nos cantos dos olhos, semi-paralelos e finíssimos vincos que, de ténues e elegantes, me levam a crer que não serão, daqui a uns anos, os sinais mais evidentes da sua maturidade morfológica.
Até porque a atenção dos desatentos gravita inevitavelmente, nessa região, para dois olhos-luz, pequenos mas enfeitados com generosidade por pestanas que lhe nascem até nos cantos dos olhos, sem exageros – não mais do que duas de cada lado – mas com uma rebeldia quase risível, que ela própria aprecia carinhosamente ou ignora, porque não as arranca.
A tal luz é azul ou azul-cinza e dói, já que as sobrancelhas, mais escuras que o cabelo, outra coisa não fazem do que acentuá-la. As mãos, já pequenas e brancas, tratou ela de encurtar roendo as unhas com um critério que torna a operação quase insuspeita mas que não se revela nos dentes. Brancos e alinhados, que os lábios fininhos destapam, aqui e ali, para uma vogal mais aberta ou para um sorriso balsâmico que quase me impede de deixar de a ouvir por não mais do que um segundo.
Por detrás das mãos, quando sentada de cotovelos apoiados na mesa, ficam suavíssimas pregas de um pescoço tão branco como aquelas, do qual se desce até ao peito, novamente infantil e no qual o soutien não é mais do que acessório sem que isso a torne menos desejável, bastando, aliás, que se levante e nos vire as costas para aniquilar sacerdotais platonismos.
De um certo ponto de vista, a morfologia deste pequeno anjo é infinitamente compatível com a minha ultra-proteinada e desengonçada existência física: encolhida, caberia toda no meu colo.
É bela, e isso é o mínimo que posso pensar, mas o máximo que as minhas competências para o discurso directo ou narrativo me permitem afirmar por ora, que outras coisas além destas apenas cabem na minha imaginação e mantêm-se intangíveis no verbo e na adjectivação.
Mais do que indizíveis futuros e resoluções no que àquilo que eu possa valer para ela diz respeito, atemoriza-me a sua aparição inclassificável na minha, até agora, por demais paradigmática e bipolarizada existência emocional.
Amo-a já, inevitavelmente, e o meu medo vai acordando, cafezinho após cafezinho.

Thursday, March 1, 2007

Provedorzinhos deprimentes

A ideia veio dos jornais. Pessoalmente, traguei com satisfação algumas páginas do Diogo Pires Aurélio no DN, não obstante a ciência pessoal dele parecesse planar demasiado acima das críticas e recomendações dos leitores. Mas planava qualquer coisa.
Como seria de esperar, pelo menos por alguns, o cheiro a esterco que grassa nas grelhas de programação dos canais de televisão da estação pública, inclusive na tímida e hesitante 2:, abafa a água de colónia dos "relações públicas". E quanto aos indivíduos, se o Paquete de Oliveira tem historial de reflexão sobre o tema, já o José Nuno Martins há muito que arrumou na gaveta as suas melhores memórias.
Os programas pouco mais são do que clips versando sobre assuntos que encheriam a plateia do "Prós e Contras" e que mereceriam uma reflexão séria e encorajadora de medidas palpáveis e igualmente sérias.
Em vez disso, limitam-se a debitar vulgaridades, senso comum, a bajular aqui e ali, que o ofício mais do que isso não permite, e assim vão tratando da violência, do excesso de novelas e de outros debates igualmente actuais e fracturantes.
Em vez de se consolidar como alternativa, a RTP aprendeu rapidamente com a vizinhança privada, fenómeno, aliás, bastante compreensível dada a rotatividade de recursos humanos entre as três estações, que significará alguma coisa, senão muito.
A RTP é uma estrutura pesada, cristalizada e com muito apetite. Como qualquer português com 50 anos, gosta de futebol mais do que o razoável - embora não atinja os níveis de obsessão compulsiva da mana RDP - e prefere malta simpática e bem nutrida antes do jantar para se convencer de que até pode abusar mais um bocadinho das goluseimas. A reestruturação de há dois ou três anos foi pouco além do logótipo e o canal público encontra-se rendido ao non sense e ao movimento pimba não menos do que a TVI, não obstante escolher cores mais suaves para cenários e guarda-roupa.
Valham-nos os Gatos Fedorentos, que já só dão uns punzinhos mas que, apesar disso, lá vão expondo em horário nobre a trapalhice nos seus Tesourinhos. E parece-me que cada semana precisam menos de ir às páginas mais amareladas do arquivo.

Friday, February 9, 2007

Arthur Rubinstein (Polónia 1887 – Suíça 1982)


É as mãos de Chopin na era da música gravada.

Sendo o piano um monstro gigante, Rubinstein não o domina pela força. Antes o adormece com paciência e delicados afagos.
É maior do que os homens.
É uma coisa boa!

(Se quiserem escutar, existe um bom acervo em http://radio.musica.uol.com.br/)

Friday, January 19, 2007

Elis Regina: 25 anos de saudade!


Elis Regina Carvalho Costa (1945, Porto Alegre – 1982, S. Paulo)

Há vinte e cinco anos atrás, desaparecia em circunstâncias trágicas, embora menos empolgantes do que aquilo que os media fizeram crer, aquela que é para muitos ou, pelo menos para mim, a melhor cantora de “música popular” da era da música gravada.
Só lhe encontro paralelo na Ella Fitzgerald e, quanto às cantoras líricas, que são habitualmente mais técnicas do que líricas, muitas dariam um braço pelo seu sentido rítmico, faculdades respiratórias e afinação prodigiosa.
Elis começou e acabou no topo.
Elis cantou muito, cantou de tudo e em todas as circunstâncias: no estúdio, nos festivais da canção, na rádio, na televisão, na revista e no teatro.
Elis até a falar era uma delícia! Oiçam nos seus discos os interlúdios em que dialoga com a audiência ou com os músicos e reparem.
A televisão era ainda, na altura, uma realidade cândida (mesmo no Brasil!) e por isso ela teve aí um espaço significativo, para gáudio dos seus admiradores, que hoje podem encontrar no Youtube registos maravilhosos.
Além de tudo isto, é importante ter em conta que os tempos eram outros. O marketing e a indústria do disco davam os primeiros passos e a tecnologia de captação e amplificação sonora era arqueológica comparativamente à panóplia de recursos electrónicos e digitais que hoje estão ao dispor de qualquer energúmeno.
As cantoras não eram vestidas pelo João Rolo mas sim pela mãe ou por uma vizinha e, basicamente, o que lhes tirava o sono não era a reunião com o produtor da tournée ou com o assessor de imagem mas o facto de que, às tantas horas e tantos minutos do dia seguinte, haveria um microfone à frente e uma orquestra atrás…
Mas Elis não perdia o sono e a tudo isto reagia com uma segurança de quem não nasceu para fazer outra coisa.
Em estúdio, os temas eram frequentemente gravados à primeira se nenhum músico se enganasse. Oiçam Alô, alô, Marciano, onde os próprios guinchos estão dentro do tom!
Ao vivo, experimentem escutar gravações de concertos em que, no meio do turbilhão da orquestra e da sala, ela não se perde nem um milímetro.
Em público… o público não existia para Elis.
Elis não cantava para ninguém! Cantava para si mesma, e as pessoas punham-se à escuta.
Ela não cantava para o povo, nem dava entrevistas a dizer, sem mentir, que cantava para o povo, ou que o povo é que a inspirava, ou que a sua carreira era dedicada ao povo, ou que ia lançar um DVD de que o povo iria gostar muito ou que o povo era muito bonito.
Ao contrário da maior parte das cantoras de hoje, que passam a vida a tomar o pulso ao povo e a entrar e a sair de “fases” e de “projectos” para explicar ao povo os turvos atalhos em que se perdem ou a sua labiríntica razão de existir enquanto cantoras, Elis não precisava de nada disso.
Embora as suas carreiras sejam ainda comparativamente embrionárias, cantoras como a Mariza ou a Dulce Pontes desde cedo demonstraram ter optado por caminhos que nunca as levarão sequer a tocar a fímbria das suas vestes.
E a diferença é que, enquanto a Mariza e a Dulce Pontes (peço perdão aos céus pela comparação) se entretêm a cantar poetas de renome como verdadeiras parolas, Elis seria capaz de cantar o malhão como uma deusa.
Elis vagueia entre o jazz, o choro, o samba, o folclore regional brasileiro, os boleros, os autores de intervenção sul-americanos… há até um ou outro registo de fado!
A carreira de Elis, bem vistas as coisas, não tem lógica nenhuma: à excepção dos primeiros discos (deliciosamente radiofónicos) e de alguns outros (relativos ao festival de Montreux ou a determinado compositor) as suas gravações têm pouca coerência temática e os alinhamentos parecem manifestamente escolhidos “a gosto”.
O que importa isso, se era Elis? E Elis era perfeita. Sabia quando expodir e quando murmurar. Há canções recheadas de virtuosismos e malabarismos e outras em que nem usa vibratto.
Tentar encontrar “fífias” nas suas actuações será uma empreedimento infrutífero.

Nos dias que se seguiram à sua morte, a 19 de Janeiro de 1982, o povo, o tal povo, escreveu nos muros da sua cidade natal: Elis vive!
Isso é verdade e é uma coisa muito boa.

Thursday, January 11, 2007

Sem dúvida mil vezes mais bela que a Marilyn...

A praia de Santa Cruz é uma das melhores coisas que há...


Num derradeiro Setembro
Morrerei na praia
Como os náufragos
A quem, apesar do muito querer,
Ninguém ouviu
E apesar de resistir,
Quantas outras forças puderam mais…
E então morrerei na praia
Mas não como os náufragos, não!
Que os piores ventos
Mais não podem que a vontade.
Que as piores marés
Não matam mais que a saudade.
Morrerei como um náufrago, sim!
Quem sabe como morrem, afinal,
Se morrem sós?
Morrerei talvez feliz,
Quem sabe?
Por ter amado,
Por ter tentado,
Por tão atormentada viagem
Ter, enfim, terminado
Na praia,
Num derradeiro Setembro.
Quem sabe, também,
Se, como os náufragos,
- eu sei como morrem, sim -
Não entenderei que morri
E julgarei viver ainda,
Quando apenas o meu éter
Flutuar pela praia

Num eterno Setembro

O João Gilberto é uma coisa muito boa!